O plano da viagem era ver o maior número de coisas possível
em cerca de 1 dia e 1/2...tarefa difícil!
Levantámo-nos bem cedinho e partimos ainda antes das 9h, rumo a Namibe
(cidade costeira, a oeste de Lubango). 2 guias – Ludy e ”Pinguim”.
Parámos para abastecer o depósito e verificar a pressão dos
pneus...máxima segurança. Uma foto magnífica...por aqui a limpeza da cidade não
é uma das prioridades, à excepção dos postos de abastecimento de combustível,
onde até lavam o chão do parque de estacionamento.
Pusemo-nos a caminho e atravessámos um dos pontos mais
conhecidos desta região...a serra da Leba, famosa pelos seus caminhos serpenteantes.
Muito bonito, sobretudo pelo facto de termos apanhado um dia de nevoeiro e
parecer que estávamos sobre um manto de nuvens. Vejam as fotos...
Ao longo das bermas da estrada é possível encontrar vários
vendedores de fruta e artesanato. Há uma área que funciona como uma espécie de
posto de abastecimento alimentar, onde se encontram várias barracas com
mulheres a venderem os seus churrascos e bebidas. Mulheres tribais tentam
ganhar algum dinheiro a vender óleos e a ser fotografadas pelos estrangeiros.
Parámos para comprar maçarocas cozidas.
Nesta pedra estaria um santo...
O trajecto até Namibe
é de uma beleza inacreditável...o cenário muta de Km a Km, dando a revelar uma
imensidão de planaltos e montanhas.
É uma pena...mas muitas vezes os estrangeiros e residentes
não nativos são inundados por burocracias e inconsistências! Fomos parados pela
polícia que, ao verificar que o carro apresentava vidros escurecidos, alteração
essa que não possuia de origem, quis multar o dono do carro (o Pinguim, também
condutor na altura). O mais triste é que enquanto esperávamos vimos parar um
carro de um Angolano, que apresentava a mesma alteração no seu carro, mas que
pôde partir quase de imediato. Foi graças ao único angolano do grupo (o Ludy),
e à sua capacidade de argumentação, que a nossa multa passou de cerca de 180
dólares para 50 dólares (para a “gasosa” do polícia).
Finalmente chegados a Namibe, já era hora de almoçar...dado
se tratar de uma cidade portuária e piscatória, comemos uma garoupinha grelhada
que estava uma delícia. Pouco há mais para ver nesta cidade para além da sua
baía...permanece como um dos principais pontos a praça, ainda da época
colonial, recentemente renovada (pouco tempo antes das eleições).
Por todo o lado são muitas as influências portuguesas...a
maioria das marcas que chega a Angola é de origem tuga.
E depois, rumo a sul, entramos no Deserto do Namibe...
Eis senão quando,
surge do meio da poeira e da areia, um extraordinário e fértil oásis...o Arco –
segundo o nosso guia (com raízes familiares no Porto) “um oásis do caraças”. É
difícil encontrar palavras...vejam...
Antes de irmos para as boxes, fomos um bocadinho mais a sul,
até à cidade portuária de Tombwa. Esta foi uma das cidades mais desenvolvidas
durante a época colonial, à custa da sua riqueza em peixe e indústrias de
conserva mas, neste momento, é uma cidade fantasma, repleta de esqueletos de
barcos e casas, lembrando uma riqueza já passada.
Fazia-se tarde e ainda queríamos chegar de dia ao nosso
destino – o “Flamingo Lodge”. É que aqui anoitece por voltas das 7pm...
Voltámos atrás pelo caminho de asfalto que liga Tombwa a Namibe
e virámos para o Deserto...eram 25 os quilómetros que nos separavam do tão
ansiado descanso. Uma pequena paragem para ver as famosas plantas carnívoras do
deserto – Welwitschia.
Após 12Km de rali no deserto, uma travagem brusca e uma
derrapagem...algo não estava bem com o carro. Saímos todos, rodeados de uma
nuvem de pó...os peritos deram a sentença...não era possível resolver o
problema no momento, faltavam algumas ferramentas para concertar o eixo da roda
dianteira.
...Pois, faltavam 13Km e já passava das 6h. Pusemo-nos a
caminho, os 4. A primeira hora correu muito bem, ainda era de dia, não
estávamos muito cansados...
Depois a situação começou a piorar...a noite caiu,
não havia lua ou estrelas que nos alumiassem...mas havia iphone. Serviu de
bússola, de lanterna, mas não durou até ao final. Sem iphone tudo ficou mais
escuro e mais angustiante. Deu lugar ao belo do telemóvel que nos deram na
Clínica em Lubango (para o caso de precisarmos de fazer chamadas nacionais),
mas a luz era muito menos potente e o cansaço era cada vez maior. Ah...claro...no
deserto não há rede!!! Restou-nos continuar até começar a ver uma pequena claridade,
que foi aumentando muito lentamente, mas que nos deu força para continuar. A
alegria foi enorme quando começámos a ouvir o barulho do mar. Os últimos
quilómetros foram duros, a tentar lutar contra o peso da areia. Mas,
finalmente, depois de 2h30 chegámos!!! Pouco mais de 4,5Km por hora, nada mau,
com as mochilas às costas e em terreno tão difícil.
Eram então 9h30. Jantámos...um jantar que nos soube pelos
céus...e depois fomos dormir! Uma cabaninha maravilhosa, com o som do mar de
fundo.
Domingo...
Só de manhã nos apercebemos da beleza inigualável e
inesquecível do local...Depois de um pequeno-almoço de crepes e ovos mexidos,
virados para o vasto oceano, fomos passear pela praia e tomámos um rico banho
de mar.
Sem pressões, voltámos calmamente para tomar um banhinho antes do
almoço. O carro entretanto já estava operacional.
Já passava das 3pm quando
deixámos aquele autêntico paraíso na terra...”Flamingo Lodge” - mais que
recomendado!!!
Não via uma aventura assim desde Phileas Fogg!
ResponderEliminarEntão o céu não alumia a noite em África? Parece impossível: por cá sempre temos o luar, a Via Láctea, o farol de Leça...
Aí não há estrelas no céu...?
QUER DIZER NÓS AQUI SOSSEGADOS E OS MENINOS A DEAMBULAR PELO DESERTO ....!!! MAS COMO JÁ PASSOU ATÉ FOI GIRO.
ResponderEliminarMAS NADA DE ABUSOS...CUIDADOS E CALDOS DE GALINHA NUNCA FIZERAM MAL A NINGUÉM. JUÍZO. NÃO ESTÃO NA EUROPA CIVILIZADA ... E MESMO AQUI É O QUE SE SABE. BEIJINHOS
Não é que não haja estrelas... há, são tantas como aí!
ResponderEliminarMas esse dia esteve nublado! E de noite parecendo que não o nublado nota-se... mais ainda no deserto... Escuro como breu!
Quanto à dúvida das noites...
Jantamos às 19h, escrevemos no blog, registamos cirurgias, estudamos um pouco, vemos uma série/filme com Dr Foster e....
Dormimos... que aqui acorda-se muito cedo!
Mas que aventura essa do deserto.....
ResponderEliminarQuanto ao resto simplesmente fabuloso.... e fico contente por ver imagens dessa África, para além das cirurgias....
Força!
Beijinhos
Sem duvida uma aventura tipo "Senhor dos Anéis" versão Lite, africana e cheia de paradoxos. O mundo que por cá já foi e não durará muito voltará a ser.
ResponderEliminarCom menos pele escura mas certamente com almas enegrecidas.
Aproveitem, pois irão dar muito jeito quando voltarem!
Obrigada pelas partilhas...
ResponderEliminarQue magnífica experiência!
Os vossos doentinhos angolanos vão vos ficar eternamente gratos, com certeza!
E... missão que é missão em terras africanas, tem que ter deserto, areia, furos de pneus e essas paisagens únicas e lindas, aproveitem!
Vão sentir saudades...