1º DIA OFICIAL DE TRABALHO – 5/10/2012
Começamos todos os dias, bem cedinho, com o pequeno-almoço
às 7h da matina. Comemos uma papa com sementes de vários tipos, especialmente
feita pelo Dr Estevão – uma delícia (pelo menos para mim, o Jorge não achou
muita piada).
Às 8h rumámos para a Clínica, onde acompanhámos o Dr Estevão na sua visita matinal, pela enfermaria. O primeiro caso que observámos foi o de
um homem no 10ºDPO de uma prostatectomia clássica, desalgaliado no dia anterior,
que iniciou hematúria, pelo que foi algaliado pelo pessoal de enfermagem
durante a noite...quando chegámos o Dr Esteváo apercebeu-se de imediato que o
balão estava na uretra e que a sonda estava introduzida apenas 8cm...só não
percebemos como é que o homem estava tão calmo – bloco, para cistostomia, já
que não se conseguiu cateterizar facilmente a uretra.
Passámos de seguida às consultas, onde o Dr esteváo recebe
doentes com uma grande variedade de patologias. Observa um grande número de
doentes com fracturas ósseas mal tratadas, após acidentes de viação (que são
cada vez mais frequentes neste país, graças ao preço reduzido das novas motas
chinesas). O Dr Estevão é visto por muitos como o médico que consegue resolver
os problemas, quando outros não o conseguiram...assim, trata muitas
complicações de procedimentos realizados por outros. Outra luta dele é a
introdução da fibra (do farelo) na alimentação dos angolanos...dispende imenso
tempo para explicar a sua importância na dieta do dia-a-dia. Há doentes que
dizem que têm uma dor que parece uma “cobra a morder o intestino”, então o
farelo é essencial para a “cobra não ter fome”.
Tivemos que fazer uma pequena pausa nas consultas para ir ao
aeroporto, para tentar reaver as 2 malas com material cirúrgico, embargadas
pela alfândega. Fomos acompanhados pelo Dr Norman...e pela carta do Pedro
Hispano que atestava a doação do material. Pelo caminho, vimos muitas coisas
que não estamos habituados a presenciar na Europa...
Chegados ao aeroporto, entrámos em contacto mais uma vez com
o Chefe Santos...muito bem, tínhamos a carta de doação, mas faltava atribuir um
valor monetário ao material das malas...o mais próximo possível do valor real
(apesar de lhe termos explicado por inúmeras vezes que o material tinha sido
DOADO, DADO, OFERECIDO). Quando falámos num valor de 200 euros, quase se riu na
nossa cara e disse que devíamos pensar melhor...500 euros, foi um valor que
propusemos e que já foi melhor tolerado (apesar de um pequeno sorriso). Taxa
superior a 30%, resultou num pagamento de cerca de 280 dólares, pela Clínica –
sim, é verdade, pagaram por material que foi oferecido. No entanto, trazíamos
cerca de 600 fios (de vários tipos), 10 redes, cerca de200 luvas esterilizadas,
300 luvas descartáveis, 30 batas descartáveis, 5 máscaras laríngeas, 5 sistemas
de drenagem torácica, 12 sacos colectores sob vácuo, 5 CVCs, material
oftalmológico variado compreendendo bisturis, colírios variados, compressas,
entre outros...portanto, material ascendendo largamento os euros pagos.
Chegádos ao hospital, eram quase 14h, fomos almoçar no
refeitório. Prato do dia – peixe seco com papas de milho, um prato típico
daqui. Estávamos com tanta fome que, apesar de salgado, comemos tudo.
Tarde no bloco...foram vários os casos e muitos
assustadores...
- 2
homens, um deles albino, com carcinomas espinocelulares de grandes dimensões,
ao nível da região temporal esquerda. Num deles já tinha sido removido o tumor
e foi efectuado um enxerto de pele parcial com pele da coxa (que é
habitualmente realizado num 2º tempo operatório). No outro, o Jorge procedeu à
remoção do tumor, sob orientação do Dr Estevão.
- Uma criança com um tumor de grandes
dimensões da região mandibular dta (provavelmente, com origem na parótida). Foi
efectuada sua exérese, sem identificação possível do nervo facial (náo há
electroestimuladores).
- Um
homem de 42 anos, com litíase vesicular sintomática. Efectuada colecistectomia
subcostal por mim, com a ajuda do Jorge. No final, temos sempre que ir falar
com a família, para mostrar o resultado da cirurgia – vesícula com pedras na
tina – de outro modo poderiam pensar que o doente náo tinha sido operado.
- 2
broncoscopias rígidas (sem anestesia)...ambos os doente estavam traqueotomizados,
com cânulas reutilizáveis de prata (com dácadas de existencia).
...E isto foi só à tarde...
Saímos por volta das 19h, cheios de fome, e tivemos a sorte
de ser a “Pizza’s night” – que tem lugar todas as sextas-feiras. Esta semana
foi em casa do Dr Estevão e contou com a presença de cerca de 30 pessoas, entre
americanos, canadianos, brasileiros, portugueses (nós), finlandeses, holandeses,
ingueleses e angolanos...um mix de culturas muito engraçado.
O resto da noite foi passado a ver 2 episódios da série,
acompanhados com o famoso chá inglês com leite...uma delícia.
Até amanhã.
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