quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Últimos dias na Clínica

De 2ª a 5ª feira...


Chegou do Canadá o Dr Joshua, Ortopedista que vem ajudar na Clínica, sendo que nestes dias o plano operatório foi adaptado, contemplando assim infelizmente muito mais casos do foro ortopédico.


Na 2ª feira foi dia de consulta onde vimos vários casos únicos...






Despedimo-nos dos Cummings que foram trabalhar para Chulo durante 2 semanas.



Estivemos num autêntico mercado angolano...






Realizámos várias cirurgias ao longo da semana, entre uma colecistectomia subcostal, colocação de drenos torácicos, biópsias, enxertos e outros pequenos procedimentos...

O último dia foi de consultas...estivemos num consultório à parte e observámos vários casos, desde fístulas rectovaginais, dores abdominais e genitais, lesões da pele para éxerese, um bebé com uma lesão cística intra-abdominal gigantesca que inscrevemos para exploração intraoperatória, um jovem de 17 anos com ânus imperfurado colostomizado em criança... uma grande variedade de consultas.

Horário muito "puxado"




E assim passou 1 mês...parece que ainda ontem estávamos a chegar e já estamos a acabar! Por um lado, as saudades de casa já são muitas, por outro lado adorávamos ficar mais 1 ou 2 meses para estar mais tempo em Kalukembe e ir ajudar outras missões (como Cavango, onde trabalham a irmã e o cunhado do Dr Foster...) – missões estas ainda mais necessitadas.







As carências deste Povo são muitas e ainda mais neste momento, em que o Governo faz um novo investimento financeiro na Saúde Angolana, mas mantendo-se lacunas sobretudo ao nível da formação dos profissionais da Saúde. Há ainda muito espaço para estrangeiros que queiram ajudar e o auxílio de trabalhadores especializados é preciosa.









Esta experiência foi inesquecível mas a nossa atitude permanece como já era anteriormente, de ajuda e entrega.


Até já.

domingo, 28 de outubro de 2012

Kalukembe... Uma Missão!

E, finalmente, a caminho de Kalukembe (Caluquembe)...


Um fantástico dia para viajar! Acordámos ainda mais cedinho, tomámos o pequeno-almoço às 5h30 para sair de casa 30 minutos depois...o relógio do carro marcava 6h18!!!




E rumámos ao fantástico aeroporto de Lubango, já tínhamos saudades das horas que lá passámos! Mais uma vez tivemos que chegar cedo apenas porque os preparativos e as burocracias demoram muito tempo (quase tanto como se de um voo internacional se tratasse)...Finalmente transpusemos o controlo de bagagens de mão e a alfândega e fomos tirar o nosso avião do hangar, literalmente.





A atestar o depósito









Parece que faltava um co-piloto, por isso, voluntariei-me para ajudar o nosso piloto Gary (canadiano que faz parte da “Mission Aviation Fellowship”, um grupo de pilotos que leva missionários às regiões de mais difícil acesso). Parece que isso incluia uma pequena aula de como pilotar um avião...com componente prática :) sim, é verdade, eu pilotei um avião com 7 pessoas!!!

  


Dia fenomenal! Luz estupenda! Vistas extraordinárias!

 





E claro...a mestria foi tal que também aterrei o avião...estou a brincar :) 

A pista em Kalukembe é improvisada e fica mesmo ao lado da estrada principal e de várias casas! Como devem imaginar não é habitual aterrarem muitos aviões por lá, por isso, quando sobrevoámos a cidade imensas crianças começaram a correr pela pista de aterragem, assim como vários jovens de motorizada...tivemos que sobrevoar a pista 3 vezes antes de tentar aterrar, sem incidentes, ao mesmo tempo que o pessoal do hospital que nos tinha vindo buscar afastava os mirones para bem longe. De novo o avião partiu e foi perseguido por crianças aos magotes, alegres, a gritarem, em direcção à nuvem de poeira (enquanto que nós virávamos costas e tentávamos respirar).


                      

             


Em direcção ao hospital, agora longe de Lubango (uma das maiores cidades de Angola), vimos uma cidade muito mais limpa e organizada. O hospital surge envolvido por uma pequena floresta, tornando o ar muito mais saudável. É um verdadeiro hospital de missão, daqueles que estamos habituados a ver nos documentários. Apesar dos parcos recursos, o esforço dos que lá trabalham permite auxiliar uma grande população.

 







Enquanto missão teve início em 1880, mas enquanto hospital data de 1944, tendo o pai do Dr Foster sido um dos primeiros médicos a lá trabalhar (ao qual se seguiu o filho, que é actualmente o único cirurgião a auxiliar mensalmente o hospital). Até há bem pouco tempo (menos de um mês) não existia um único médico residente, o hospital dependia unicamente do seu corpo de enfermagem (incluindo o bloco operatório que realiza cirurgias “life saving” – por 2 ditos técnicos, com elevada experiência prática). Neste momento existe um médico de clínica geral, que dá apoio sobretudo à enfermaria.

Estamos a falar dum hospital com cerca de 200 camas (entre enfermaria de homens e mulheres, pediatria, maternidade e quartos especiais) mais sanatório, geridos por um fantástico enfermeiro e director - Nélson, coadjuvado por 2 outros enfermeiros (sensivelmente da mesma faixa etária, igualmente, humildes, diligentes e incansáveis) – António e Gedeão.

Amarelo - Pediatria; Vermelho - Homens; Roxo - Mulheres; Laranja - Maternidade; Verde - Consultas; Azul - Bloco

Fomos acolhidos de uma forma muito carinhosa.
Deixámos a bagagem nos nossos aposentos e tomámos um segundo mata-bicho (numa pequena sala em frente à casa onde ficámos). Estávamos assim preparados para começar a trabalhar...dirigimo-nos ao hospital eram por volta de 9h30.








Começámos por fazer a visita aos doentes internados, para decidir quais os casos que teríamos adicionalmente que levar ao bloco operatório (para além dos já agendados).



10º dia pós-op de correcção de perfuração
intestinal por febre tifóide - evisceração com
peritonite purulenta... Bloco!
Extensas queimaduras de 2º grau após
explosão de botija de gás - muito comum
    

        

Hepatotoxicidade por remédio do "mato"

  

São dezenas os doentes internados com malária.
 Os olhos dizem tudo!
Tumefação abdominal dolorosa, após pielonefrite
Bloco - Abcesso volumoso retroperitoneal.


À tarde, BLOCO! Composto de 2 salas, uma maior com 2 mesas e uma mais pequena, dita séptica. Numa tarde, até por volta das 18h, ainda conseguimos operar cerca de 10 doentes.

 


 


Esterilizador da 2ª Guerra Mundial

Mas o dia ainda não tinha terminado, depois do jantar, consulta até por volta das 23h. Aqui dezenas de pessoas esperam (adormecendo à entrada do hospital) para serem vistas por um médico, eram mais de 80. Pudemos ajudar o Dr Estevão fazendo algumas consultas da área da cirurgia geral, urologia e obstetrícia, enquanto ele via a grande maioria dos casos, que eram do foro da Ortopedia (já que cada vez há mais e mais acidentados nas estradas angolanas). Não foi mau, conseguimos fazer ao todo cerca de metade das consultas.


O nosso gabinete de consultas
Um baço de respeito
O Anestesista não resistiu à consulta - Sr Chicucumba
Provável melanoma - Bloco

 


Fim do dia...fomos dormir!



6ª feira...um dia CHEIO...das 7h às 23h!!!




É dia de culto matinal às 7h30, seguido da passagem de turno, com a presença de todo o “staff”. No final, fomos apresentados pelo Enf Nélson e pudemos dizer algumas palavras.
Depois de passarmos visita aos doentes operados no dia anterior, fomos para o bloco...tínhamos um plano que compreendia cerca de 2 dezenas de cirurgias (plano este que o Dr Nélson esteve a organizar após as consultas da noite anterior). 



Uma amputação dos diabos!
Mais uma vez encharcado...
O almoço é levado ao bloco para não perdermos muito tempo entre cirurgias.



Após o jantar, fomos fazer as restantes consultas que faltavam...entre médicos e enfermeiros estavam cerca de 8 pessoas a assistir às consultas dadas pelo Dr Estevão. O mais engraçado é que os doentes não parecem importar-se nada, muito pelo contrário, até parecem apreciar e agradecer o interesse.  










Sábado...mais um dia “non stop”.
Pequeno-almoço, para não variar, às 7h, em casa do Enf Nélson.
A caminho do hospital, um pequeno grupo de crianças, contentes com a atenção do fotógrafo.


Observados os doentes até então operados, rapidamente para o bloco.

Assépsia no Bloco - Água para lavar as mãos

 





E foram mais cerca de 20 os doentes operados até por volta das 15h30 (contando apenas com um curto intervalo para almoço).

Pés todo-o-terreno

Plano terminado (53 doentes operados em 3 dias), era hora de partir, já que o aeroporto de Lubango muito excepcionalmente recebe voos noturnos.
Não podemos partir sem antes tirar mais uma fotografia para mais tarde recordar...




Para que pudessemos descolar a pista tinha que estar desimpedida. Assim, era ver a ambulância do hospital atrás dos motociclistas desrespeitadores (com apreensão das chaves incluída) enquanto o avião descolava (ordens do Enf Nélson).

E foi agora a vez do Jorge pilotar o avião...segundo o Gary, “he’s natural”.

Uma hora diferente do dia, mas uma luz e um cenário igualmente inesquecíveis.








À chegada, aguardáva-nos um jantar delicioso...pizza (que já era uma promessa da irmã do Dr Estevão) – segundo o marido “the best pizza in the world” – pelo menos, uma das melhores!
E depois, o descanso do guerreiro.




O Domingo está a ser para recuperação e recarregar baterias.


Depois do culto, fomos ver alguns doentes ao CEML e agora estamos em casa a escrever o blog – enquanto chove a cântaros lá fora (tipo tempestade tropical).
Até amanhã...